Angelo Carneiro

“Learning from failure: persistence of aneurysms following pipeline embolization”

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Neste artigo1, o Dr Shapiro (que muitos de vós conhecerão do site neuroangio.org) faz uma análise retrospectiva de uma base de dados de doentes com aneurismas da circulação anterior, não rotos, que foram tratados com stents diversores de fluxo Pipeline, por forma a avaliar quais os factores que impedirão a oclusão total dos aneurismas.

Dos 100 doentes tratados, 92 tinham angiografia de controlo ao final de um ano e, de entre estes, 19 (21%) não estavam totalmente ocluidos.

Segundo os autores, a morfologia dos aneurismas tem impacto importante, com os aneurismas fusiformes e aqueles com uma menor relação saco aneurismático/colo a serem mais susceptíveis. O outro factor que se associou à não-oclusão foi a colocação prévia de um stent cortado a laser também.

Embora sem impacto na análise estatística global, a má colocação do stent e a existência de uma artéria a emergir do aneurisma foram igualmente identificados como potenciais factores causais.

Embora inicialmente desenvolvidos para serem usados em casos de aneurismas recidivantes (após a embolização com espiras metálicas) ou em aneurismas que não poderiam ser tratados de outra forma, os stents diversores de fluxo têm sido cada vez mais usados noutros cenários, como em aneurismas mais pequenos, em aneurismas rotos, etc. Apesar da sua popularidade crescente, convém não esquecer a sua elevada taxa de complicações permanentes (da ordem dos 10%)2.

É interessante o elevado número de stents que foram colocados nestes doentes, na mesma linha do estudo PUFS3 . Nesta série há um doente que recebeu 10 (!) stents.

Os autores fazem uma análise interessante à questão da distribuição geométrica das malhas do stent, nomeadamente à variação da porosidade em função do grau de expansão do stent e ao longo das curvaturas das artérias. Explicam ainda o potencial efeito nefasto da colocação de um stent de remodelagem prévio à colocação de um diversor de fluxo.

Considerando que temos ainda muito a aprender quanto aos efeitos a longo prazo deste tipo de tratamentos (diversão de fluxo), este artigo faz luz sobre alguns dos factores que influenciam os resultados a curto prazo.

 

1) Shapiro, Maksim, Tibor Becske, and Peter K. Nelson. "Learning from failure: persistence of aneurysms following pipeline embolization." Journal of Neurosurgery (2016): 1-8.

2) Lv, Xianli, et al. "Flow-diverter devices in the treatment of intracranial aneurysms: A meta-analysis and systematic review." The neuroradiology journal 29.1 (2016): 66-71.

3) Becske, Tibor, et al. "Pipeline for uncoilable or failed aneurysms: results from a multicenter clinical trial." Radiology 267.3 (2013): 858-868.